Vila
Joya, em Albufeira, integra a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo,
numa votação promovida pela revista Restaurant,
que pela primeira vez seleciona um restaurante português. Quem o dirige é um chef austríaco, Dieter Koschina, que em 1991 se mudou de
armas e bagagens para o Algarve, uma região que considera ser um verdadeiro
paraíso.
Para assinalar o feito e perceber melhor a relação de Dieter
Koschina com o Algarve, deixamos hoje aqui as palavras que ele inscreveu no
livro “Algarve, 40 anos, 40
olhares”.
Chef Dieter Koschina
“Lembro-me do dia em que cheguei a Portugal pela primeira
vez, em 1991. Estava um céu de verão com algumas nuvens, muito azul. O pouco
vento arrastava uns fios brancos pelo azul e essa foi a minha primeira
impressão: um quadro a pastel animado por uma brisa agradável. Fiquei encantado
com aquela cor morna e a largueza da paisagem. Sentia no corpo uma extensão da
sensação de estar a ser bafejado por uma grande sorte; apenas uns dias antes
não teria sequer pensado na existência do país onde acabava de aterrar. Recebera
um telefonema de Claudia Jung, que ligava de Portugal a convidar o chef do
Vienna Plaza para dirigir a cozinha de um restaurante que estava a montar num
pequeno hotel de charme no extremo Sudoeste da Europa; como fui eu a atender e
o chef não estava, acabou por me fazer o convite a mim. A ideia era dirigir
todos os trabalhos da cozinha e ser o responsável absoluto por supervisionar o
processo gastronómico, desde a escolha dos ingredientes, a sua compra e
acondicionamento, até à imaginação dos pratos, a sua preparação e a entrega aos
olhares, aos olfactos, ao tato e ao paladar dos clientes. No final, Claudia
prometia-me carta branca e isso, aliado à ideia sedutora de trabalhar num
espaço aberto com vista para o mar, numa região em que o sol brilhava e aquecia
o ambiente durante mais de trezentos dias por ano, fez com que não hesitasse em
responder, no mesmo telefonema, que aceitaria o desafio.
Na viagem para Portugal ainda tive dúvidas: a casa que
Claudia e Klaus tinham comprado uns oito anos antes estava metida no final de
uma estrada no meio de nenhures, numa rochosa praia chamada da Galé, de que eu
não tinha, na altura, grande notícia. Era como um fim de mundo onde só houvesse
o mar, alguns pinheiros entre a casa e a areia e uma cozinha imensa para eu usar
como quisesse. Um sonho, nada mais do que isso. Ora, o que faz mover um
profissional ambicioso em começo de carreira, senão o sonho?
Desde que aceitei o convite dos Jung, que me foi feito pelo
acaso de ter sido eu a atender aquele telefonema, tenho-me dedicado de corpo e
alma ao restaurante Vila Joya. Foi nele que desenvolvi a carreira que hoje
tenho. Pelo trabalho que nele faço mereci já mais do que uma vez a grande honra
de receber duas estrelas Michelin. Este canto da Terra é um paraíso para quem,
como eu, aprecia a simplicidade dos sabores e das sensações. Tenho à minha
disposição, sem precisar de ir muito longe, os melhores e mais saborosos
ingredientes que são a base de qualquer cozinha, da mais rústica à mais
sofisticada.
Nos poucos momentos que o trabalho me deixa livres, agarro
na Harley-Davidson e vou Algarve fora a sentir a mesma aragem do dia em que cá
cheguei: morna, luminosa e cheia de odores.”
Restaurante Vila Joya - Fotografia retirada daqui
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