Parece que quem cá entra é bafejado pela inspiração. Realmente, o Algarve já foi cenário de centenas de filmes pelas suas paisagens ou pela luz especial que tantos lhe gabam. Já serviu de «modelo» a pintores ou fotógrafos e já deu o empurrãozinho à criatividade de grupos que aqui compuseram canções dos estilos mais variados. Hoje é dia de revisitarmos as músicas e os videoclips desses grupos – a lista não é perfeita e muito menos exaustiva, mas é uma boa banda sonora para este texto.
Corridinho. Rock. Pop. Jazz. Clássica. O Algarve inspirou canções de géneros musicais diferentes ao longo do tempo, umas mais conhecidas, outras nem tanto (diz-nos o ouvido atento). Teve influência no «Picadinho do Algarve», tema do compositor e acordeonista algarvio João Barra Bexiga que criou quase 300 músicas para o instrumento de fole e palhetas metálicas, e ainda no (quem diria?) «Yesterday» dos Beatles. Nós explicamos: consta que a letra deste clássico do grupo-fenómeno de Liverpool terá sido escrita por Paul McCartney a caminho de umas férias no Algarve.
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Capa do álbum «Penina» |
Ainda Paul McCartney. Em 1968, o músico inglês compôs espontaneamente o tema «Penina» numa noite de convívio no bar do Hotel Penina, em Alvor, acabando por oferecê-lo à banda portuguesa Jotta Herre que ali tocava. Os Jotta Herre gravaram o disco «Penina» em 1969 e no mesmo ano foi lançado outro disco com a canção, desta vez na voz de Carlos Mendes, que acabaria por popularizá-la.
Em 1976, seria Zeca Afonso a eternizar a população de pescadores andarilhos que chegaram a Lagos na década de 50 à procura de trabalho. Fixaram-se na Meia Praia, sítio de peixe em abundância mas onde faltava habitação. Os pescadores originários de Monte Gordo improvisaram então casas de colmo nas dunas cujo aspeto lhes valeu a alcunha de índios. «Quem aqui vier morar/ Não traga mesa nem cama/ Com sete palmos de terra/ Se constrói uma cabana», verseja Zeca na canção «Os Índios da Meia Praia», incluída no álbum «Com as Minhas Tamanquinhas».
Capa do álbum «Ring of Changes» |
Quatro anos mais tarde, em 1980, o Algarve dava origem à balada «Paraíso dos Cavalos» dos Barclay James Harvest. Foi durante umas férias com a família na Quinta do Lago que o músico John Lees compôs o tema do álbum «Ring of Changes», depois de ter frequentado o centro hípico «Paraíso dos Cavalos» e de ter ficado com boas recordações do lugar.
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Capa do álbum «Silêncio» |
Mais próximo da atualidade está o nome de Pedro Abrunhosa e a canção «Algarve», faixa escondida do álbum «Silêncio», de 1999: «Da chuva faço mil estradas de vidro/ E o meu carro a rolar/ No ar o cheiro do destino/ No chão a pele quente/ Do Algarve a acordar».
Continuamos em português, agora com os GNR e a sua «6.ª feira (um Seu Criado)» que nos fala, no início, de uma noite bem animada (na falta de melhor palavra) em Albufeira. O tema é de 2002 e pertence ao álbum «Do Lado dos Cisnes».
E se a atenção dos GNR vai para Albufeira, a de Luís Represas fica em Vila do Bispo com a música «Sagres» de 2008, onde se canta: «Sagres/ Tu sabes/ Como se arma um coração/ Agarramos uma vida/ Desatamos a paixão».
Mudamos agora a melodia da jukebox para o registo clássico. Em 2009 nasce a «Suite das Descobertas», uma peça sinfónica de seis andamentos que exalta o papel do Algarve num dos mais marcantes episódios históricos do país – os Descobrimentos. Foi apresentada em estreia absoluta na região pela Orquestra do Algarve (hoje Orquestra Clássica do Sul) e tem autoria do maestro, pianista e compositor Armando Mota, que a criou «depois de passar horas infinitas em Sagres a ouvir o barulho do silêncio e a música do mar», como o próprio conta.
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Capa do álbum «As pequenas gavetas do amor» |
Atenção ao jazz. Sim, o Algarve também tem dedo neste género musical sincopado e em parte improvisado. De 2011 é o álbum «Flajazzados», um projeto liderado por Zé Eduardo (contrabaixista, compositor e pedagogo radicado no Algarve há vários anos) e que tem a participação especial de Viviane. Viviane que, por sua vez, é algarvia e por cá tem composto e filmado, na versão videoclip, muitas canções entre as linguagens do fado e do tango. Veja-se por exemplo «Não Apagues o Amor», de 2011, ou «O Tempo Subitamente Solto Pelas Ruas e Pelos Dias», de 2012.
Bem, e depois há, claro, uma série de grupos mais recentes que não só residem na região como fazem dela parte do seu processo criativo: oLudo, João Lum e os Nome são apenas três dessas formações musicais.
Podíamos ainda ter falado dos Íris, do Ricardo Coelho Project, da banda Bubblebath e de tantos (imensos) outros que nos dão música de uma maneira ou de outra ligada ao Algarve. Mas a lista já vai longa e assim podem vocês adicionar-lhe os nomes em falta. Se precisassem de um pretexto para remexerem nos CD, nos discos ou nos canais Web com as «modas» inspiradas no Algarve, este era o ideal. Então usem-no e, já agora, partilhem depois connosco as canções e os grupos de que se lembraram e que não referimos aqui. Sim?
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