Por cá, andamos a redescobrir os
segredos do Algarve. Por isso, hoje programamos o nosso GPS com destino a
Lagos, uma das mais belas cidades desta região.
A origem de Lagos remonta à
Antiguidade. Terá sido Lacóbriga, uma povoação que hoje se pensa
corresponder aos vestígios arqueológicos identificados no sítio do Monte
Molião, localizado sobre a colina que domina o estuário da ribeira de Bensafrim.
Mas nós vamos diretos ao seu centro histórico para iniciar um passeio que nos conduz
até ao século XV, época de ouro da cidade, quando se tornou porto de partida e
de chegada das naus que participaram nos descobrimentos da costa africana.
Segredos históricos
Passamos pela rua da Barroca,
que, ligando a urbe ao mar, era, à época, a única rua direita até ao interior
da cidade. O seu empedrado foi substituído por uma típica calçada portuguesa
que apresenta originais motivos marinhos. Daí seguimos até à praça do Infante,
passando junto ao emblemático edifício conhecido como “Mercado de Escravos” por
a ele se associarem as primeiras vendas de escravos resultantes do tráfico
negreiro do período dos Descobrimentos. O espaço alberga uma exposição alusiva
ao tema.
Na praça com o seu nome, ergue-se
uma das mais conhecidas representações do Infante Dom Henrique. A estátua, da
autoria de Leopoldo de Almeida e inaugurada em 1960, está replicada em cerca de
15 locais por todo o mundo. A praça corresponde à antiga Ribeira dos Touros,
designação relacionada com o uso de gado bovino para puxar barcos e redes para
terra. A poucos metros, junto ao Castelo dos Governadores, estão os vestígios
do antigo cais de onde partiam as caravelas para a epopeia dos Descobrimentos Portugueses.
Desde o cais das Descobertas,
olhando para a muralha, observamos uma janela de gosto manuelino, a partir da
qual, reza a história, terá D. Sebastião assistido, em 1579, a uma última missa
antes de partir para a batalha de Alcácer-Quibir.
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Do cais das Descobertas ao Castelo dos Governadores |
Prosseguimos o nosso passeio
junto às muralhas para nos determos alguns instantes junto ao Brazão de Armas que
integra as armas do Infante Dom Henrique. Uns passos adiante e encontramo-nos
junto ao monumento que homenageia o lacobrigense Gil Eanes, o primeiro a dobrar
o cabo Bojador em 1434.
A história da cidade através da
sua evolução urbana é o que ficamos a conhecer no Armazém do Espingardeiro, um
edifício militar de 1665, hoje transformado em centro de interpretação.
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Armazém do Espingardeiro |
Segredos artísticos
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Museu Municipal Dr. José Formosinho e Igreja de Santo António |
E nós que andamos à caça de “segredos”,
encontramos, justamente na ala dedicada à etnografia, os “Segredo do Algarve”. É
assim que se designa um ponto de crochet que podemos observar em delicadas
amostras de renda antiga.
Antes de sair do museu, ainda
temos a oportunidade de admirar, no seu pátio interior, o pelourinho manuelino
de Lagos que ali foi reconstituído, nos anos 30 do século XX, a partir de
fragmentos do original que terá ruído no terramoto de 1755.
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Testemunhos da presença judaica em Lagos |
Na arquitetura do centro
histórico de Lagos deparamo-nos também com as marcas da presença judaica. A
cidade albergou, no século XV, a segunda maior judiaria do Algarve e a janela
manuelina, na rua Henrique Correia da Silva, bem como várias portas em que
encontramos as características cantarias chanfradas e decorações de base nas
ombreiras, são testemunhos disso.
Segredos de azul e outras cores
A costa de Lagos é conhecida como
“costa d’oiro”, certamente por causa dos magníficos recortes naturais das suas
falésias rochosas de cor ocre, que contrastam com o imenso azul do mar. Neste nosso passeio de
redescoberta de segredos do Algarve não poderíamos passar ao lado da beleza
natural de Lagos e das suas paisagens com vistas de cortar o fôlego.
Uma dessas vistas associa-se ao
verde do premiado campo de golfe Onyria
Palmares. É no seu Club-house que
vamos almoçar, com vista sobre a baía da Meia-praia e sobre a ria de Alvor.
Diz-se que os olhos também comem e neste caso não falamos só do que vemos nos
pratos. O olhar espraia-se até ao mar e deslumbra-se com os vastos horizontes.
Neste passeio, uma visita à ponta
da Piedade é absolutamente incontornável. Trata-se de uma formação rochosa de
grandes dimensões considerada como um dos mais belos locais do mundo, onde se
pode aceder de barco a grutas e furnas marinhas artisticamente esculpidas pela
natureza. Contentamo-nos, para já, com a vista e seguimos para uma última
paragem na praia da Luz.
Emoldurada pela falésia onde
sobressai uma rocha negra de origem vulcânica e pelo branco casario da antiga aldeia
piscatória, a praia de areia fina e macia também se caracteriza por uma extensa
plataforma rochosa de cores quentes, muito esculpida pelo mar e com fósseis
marinhos.
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Praia da Luz |
A fortaleza seiscentista, sobre a
falésia, é hoje um restaurante com vista privilegiada e é na sua esplanada que
nos despedimos de Lagos, tomando uma bebida e mergulhando uma última vez o
olhar no azul do horizonte.
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